Ageu Alves de Melo, alcunhado de Mestre Ageu, nasceu na Parnaíba de logradouros largos e estreitos, no dia 05 de outubro de 1931, na rua Armando Burlamaqui, bairro Campos (hoje São Francisco da Guarita).
Seus genitores foram Raimundo Nonato de Melo e Maria Feitosa de Melo. Seu pai trabalhava nos armazéns do Estado, no antigo Porto Salgado (beira de rio, no Porto das Barcas, cenário dos romances do notável polígrafo Assis Brasil [1929-2021]), também pintor na construção civil. Sua mãe era cearense e do lar.
Com dificuldades para a subsistência, seu Raimundo esteve no Pará como seringueiro, adoeceu de malária e retornou à terra natal. Em seguida, migrou com a família para Teresina, capital do Piauí. Com as expectativas frustradas, todos regressaram em definitivo, para Parnaíba.
Mestre Ageu era um menino inteligente, de aguda sensibilidade e com vocação para a poesia. Iniciou a sua carreira artística como repentista, cantador e violeiro. Com múltiplos talentos (sobretudo para a literatura, pintura e música), descobriu a escultura, cujo domínio como artesão o fez célebre e reconhecido no país e no exterior.
“Eu estava no festejo de São Francisco do Canindé, no Ceará, e veio uma mulher que procurava por alguém que soubesse fazer um ‘pé de madeira’ para ela pagar uma promessa. Eu sei fazer!, disse. Mas você é tão novo, já sabe fazer isto? Quantos anos você tem? Eu respondi: dez anos. Se você sabe, faça para mim um ‘pé direito’. Corri para casa e no outro dia fiz o ‘pé’, cobrei quinhentos réis e ela pagou satisfeita e disse: Agora sim, vou pagar a promessa e saiu comentando. Logo depois apareceram mais encomendas, aí não parei mais. Fiquei fazendo ex-votos (peças para agradecer milagres).”.
Mestre Ageu fez a sua primeira exposição no coração da sua cidade natalícia, na Praça da Graça, com sete extraordinárias peças, em uma feira de artesanato promovida durante a primeira gestão do Prefeito João Tavares da Silva Filho.
Devido à repercussão desses trabalhos expostos, que retratavam o lavrador, o pescador, o caçador e o homem do campo, Mestre Ageu recebeu uma homenagem da Cooperativa Artesanal de Parnaíba, sendo prestigiado com um lauto coquetel oferecido pela primeira-dama da cidade, à época, Dona Almira Silva.
Em 1988, ao lado do renomado escritor Fontes Ibiapina (1921-1986), membro da Academia Parnaibana de Letras, também seu fundador e seu primeiro presidente (2021 – Ano do Centenário de Fontes Ibiapina), Mestre Ageu recebeu a Medalha Da Costa e Silva, alta insígnia piauiense.
O tradicional estabelecimento de hospedagem em Parnaíba, Hotel Cívico, localizado na Avenida Chagas Rodrigues, número 474, no caminho citadino que leva ao rio Igaraçu, preserva em seus sofisticados espaços, uma das peças mais significativas do Mestre Ageu, conhecida como “Labineira”, escultura impecável de uma mulher vivente do Labino, região poética dos cajuís, preâmbulo para quem se destina à Praia da Pedra do Sal. É uma exuberante criação artística, arquitetada com tamanha fidelidade, que parece real ao olhar do observador.
Em reconhecimento aos 90 anos de vida do Mestre Ageu foi inaugurada, em 2021, a Galeria Mestre Ageu, no Complexo Cultural do Porto das Barcas. E como louvação a sua arte, o Almanaque da Parnaíba, edição de 2021, prestou um tributo a esse importante artista popular, apresentando aos leitores o seu dom para a poesia.
Ainda sem livro publicado, porém com a gaveta cheia de originais, com um acervo de cinco livros prontos para editoração, Mestre Ageu foi um legítimo
sonhador, homem simples, conversador e sábio, de labor voltado para o Espírito, sendo detentor da apreciação de quem o conhece.
Mestre Ageu residia na Travessa Deputado Pinheiro Machado, número 511, no bairro Rodoviária, na Parnaíba – costa do Piauí, onde possuía um ateliê e um aprazível terraço em que recebia os seus admiradores para uma boa conversa debaixo dos manguezais. Depois de escutá-lo, era impossível ser o mesmo e não levar aprendizados consigo para vida afora. A sabedoria lhe era peculiar.
Sua poesia é valiosa e vasta, nutrida pelas experiências, pelas paixões, pela natureza, pelo diálogo com o insondável, repleta de lições e de imagens fecundas: “as nuvens passavam longe / deixando sombra no chão/ iam derramar suas águas / em outra dimensão.”.
*Diego Mendes Sousa é poeta e crítico. Filho da Parnaíba, dadonde ama os seus.
Nota: Mestre Ageu faleceu no dia 25 de abril de 2022.