MÚSICA
... Iure Moreno
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MÚSICA (Iure Moreno) no PIAUÍCult.
Sobre... (Iure Moreno).
Documentário em animação “O Malabarista” mostra vida nas cores de um artista que o cinza da cidade ofusca
Em meio a carros e a pressa da rotina, o picadeiro dos semáforos traz alegria a um passar de veículos com motoristas apressados e passageiros preocupados com seus compromissos em curta-metragem premiado de diretor goiano
O diretor goiano Iuri Moreno, de 29 anos, queria fazer um documentário sobre os malabaristas de rua. Pensou em incluir animações no filme. Mas mudou completamente de ideia. “Decidi fazer 100% em animação mesmo quando eu decidi que a animação seria o foco na minha vida. Precisava me desafiar a fazer uma animação e me colocar nesse mercado o quanto antes, e assim o fiz.”
Da entrada no mundo da animação surgiu o filme “O Malabarista”, lançado em 2018. O documentário foi realizado a partir da captação de recursos com projeto aprovado na Lei Goyazes [Lei de Incentivo à Cultura do Estado de Goiás]. Quem topou investir R$ 70 mil na produção do curta-metragem de dez minutos foi a empresa Compleite, que recebe isenção de parte do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços] ao patrocinar projetos culturais aprovados pelo mecanismo estadual. E o resultado fez com que o resultado girasse o mundo.
“O Malabarista”, que traz depoimentos de artistas de rua que vivenciam a arte circense dos malabares nos semáforos, retrata nas imagens uma história de um dia de trabalho de um artista de rua, da hora em que ele acorda até o fim de seu expediente. O filme foi selecionado para cem festivais em 28 países e recebeu 26 prêmios.
Estão na lista de eventos nos quais o curta-metragem de animação esteve o 35º Chicago International Children’s Film Festival (EUA), o 26º Anima Mundi (RJ/SP), o 44º Festival de
Cine Iberoamericano de Huelva (Espanha) e o 40º Festival de La Habana – Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano (Cuba).
“Eu fazia pós-graduação em Cinema e Audiovisual na UEG [Universidade Estadual de Goiás] e tinha uma matéria sobre documentários ministrada pelo professor Rafael de Almeida. Durante as aulas, percebi o quanto o documentário poderia ser abrangente e isso também me deu um empurrão, tive mais coragem de assumir o documentário em animação durante as aulas”, relata Iuri sobre quando teve a ideia de mudar a proposta para um filme todo feito a partir de desenhos.
Para cuidar das ilustrações, storyboard, direção de animação e arte, Iuri chamou o goiano Wesley Rodrigues. “O Malabarista” é o terceiro filme da carreira do diretor, que começou no cinema em 2011 com o documentário “Eu Kalunga” como parte do trabalho de conclusão do curso de Fotografia e Imagem na Faculdade Cambury. Depois veio “Lápis Sem Cor” no ano de 2016.
Quando teve como certa a ideia de fazer o documentário em animação, Iuri viu que precisava de algo diferente. “Eu já tinha visto outros documentários em animação em que a imagem simula uma pessoa falando, com um desenho da pessoa sentada na cadeira falando para a ‘câmera’.” O diretor explica que “queria trazer uma proposta nova, com os depoimentos sempre em off e narrativa visual” ao mesmo tempo.
Veja o trailer do filme “O Malabarista”:
Sócio da produtora Caolha Filmes, Iuri contou com produção executiva de Lara Morena no filme, assistência de direção de Fernão Carvalho, direção de produção de Danilo e Marcelo Kamenach. O som ficou a cargo de Thiago Camargo e Guilherme Nogueira. A trilha sonora é assinada por Dênio de Paula, da Tambor Cortante, que assume os violões e efeitos, com Henry na percussão e Fred Praxedes na sanfona.
Mas a canção escolhida para o final do curta-metragem, “Paixão de Malabarista”, foi composta por Saracura do Brejo, um dos malabaristas entrevistados para a realização do documentário. A interpretação da música tem a voz de Flávia Carolina, com direção musical, mixagem e masterização de Dênio de Paula e Daniel de Paula. A finalização do filme é de Isabela Veiga, pesquisa por Iohannah Hardy e o próprio diretor, além do design gráfico de Gabriel Godinho.
O filme
A história só existe porque os malabaristas contaram sua rotina. Mas o trabalho de tirar o ganha-pão no semáforo todo dia feito por Luciano Yacante, Ana Marcela, Ícaro Araújo, Gustavo Torres, Chico Curi e Samira Lemes surge como narração de detalhes do que vivem os artistas de rua no contato com pessoas nem sempre muito dispostas a receberem com bons olhos seus trabalhos com a seriedade que gostariam de ser encarados.
Mesmo assim, o malabarista acorda pela manhã e vê cor no café tomado enquanto olha pela janela o pássaro que sobrevoa a cidade. Desde o exercício matinal ao ponto de ônibus, a busca é por levar alegria a quem o nota, com truques ou brincadeiras. O sorriso de uma criança, que também tem cor em uma cidade pálida pela tonalidade única da rotina cansativa, mostra que o encanto da infância permanece nos malabares do artista de rua no seu dia a dia.
Quem por ele passa ganha mais cor. E até mais vida. O desafio de esperar o semáforo assumir a luz vermelha e se mostrar palco provisório e com curto tempo para a exibição do malabarista vem como um desafio ainda maior. Se exibir em sua técnica de equilíbrio com bolas ou outros objetos em equilíbrio ou controle no ar parece uma busca cruel pela atenção e respaldo de um público que acelera apressado, louco para ver a luz verde no semáforo e seguir seu destino em desafio ao ponteiro do relógio.
Até o ato de passar o chapéu em busca de uma contribuição ou um pagamento voluntário pela exibição artística naquele momento se torna um ato de resistência. É hora de manter o sorriso, não borrar a maquiagem e retribuir com bom humor quando a atitude do motorista é lhe fechar o vidro na cara ou simplesmente ignorá-lo enquanto verifica a notificação que não existe no Instagram ou no Facebook de forma ilegal com o carro parado – ou até na moto, para os menos preocupados com a morte.
Por mais que a história tivesse tudo para deixar uma reflexão triste sobre a dureza da cidade com quem lida com cultura e arte de forma profissional, mas não é reconhecido por sua formação, seja nos malabares, no picadeiro ou na direção de um curta-metragem em animação, o roteiro traz a beleza de uma rotina dura que vai aos poucos sendo tomada pela cor e a esperança.
“O malabarista, colorido, representa a arte, a alegria, o entretenimento, que muitas vezes deixamos de lado na correria do nosso dia a dia. Já a cidade, monocromática, é a representação dessas rotinas monótonas que levamos, com muito trânsito e sempre com pouco tempo. A ideia foi trazer o malabarista pincelando e colorindo essa cidade, as cores ficam em detalhes sutis, como nas bochechas de passageiros após a sua apresentação no ônibus”, explica o diretor.
Incentivo
O filme “O Malabarista”, que já tem contratos fechados de exibição com as emissoras de televisão Canal Brasil e TV Brasil, além de seu projeto ter sido aprovado Lei Goyazes de 2016. No final de 2018, o ex-governador José Eliton (PSDB) assinou um decreto que determinava o fim o mecanismo de incentivo à cultura, que foi revertido este ano na Assembleia Legislativa. Só que o cronograma de captação de muitos projetos está atrasado. “Se não voltar a liberar os recursos, a produção da cultura vai continuar parada.”
Iuri é um dos organizadores do Lanterna Mágica, festival de cinema voltado para os filmes de animação, que tem entrada gratuita e chega em 2019 à sua terceira edição. “Está tudo uma loucura. Os projetos do FAC [Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás] de 2017 não foram pagos. Aprovamos três projetos em 2017: Lanterna Mágica, meu novo curta de animação que vou dirigir e um projeto de pesquisa.” De acordo com Iuri, até agora nada foi liberado do Fundo, o que tem prejudicado o desenvolvimento desses trabalhos.
O diretor explica que a alternativa, por enquanto, é buscar patrocínios privados para realizar a terceira edição do Lanterna Mágica e os outros projetos. Como o Fundo de 2018 ainda está em fase de análise dos novos projetos apresentados, que está atrasada, os produtores culturais goianos que dependem do incentivo estadual “estão na luta”. “No âmbito federal, a Ancine [Agência Nacional do Cinema] também travou.”
A Caolha Filmes acabou de aprovar um projeto de produção de uma animação longa-metragem chamada “O Minimundo de Clarice”, que entraria na fase de contratação. Mas o processo de incentivo da Ancine está em discussão no Tribunal de Contas da União (TCU). Isso somado aos cronogramas de captação de recursos mensais da Lei Goyazes e os pagamentos do Fundo de Arte e Cultura, que estão atrasados, o que tem atrapalhado o setor cultural goiano.
Mas parece que, mesmo com as dificuldades, a arte em Goiás segue como o malabarista, que tenta levar cor na maquiagem, simpatia no sorriso, técnica e beleza nas manobras que executa enquanto o semáforo está fechado e há disposição para continuar a receber não enquanto passa o chapéu.
Fonte:
Em meio a carros e a pressa da rotina, o picadeiro dos semáforos traz alegria a um passar de veículos com motoristas apressados e passageiros preocupados com seus compromissos em curta-metragem premiado de diretor goiano
O diretor goiano Iuri Moreno, de 29 anos, queria fazer um documentário sobre os malabaristas de rua. Pensou em incluir animações no filme. Mas mudou completamente de ideia. “Decidi fazer 100% em animação mesmo quando eu decidi que a animação seria o foco na minha vida. Precisava me desafiar a fazer uma animação e me colocar nesse mercado o quanto antes, e assim o fiz.”
Da entrada no mundo da animação surgiu o filme “O Malabarista”, lançado em 2018. O documentário foi realizado a partir da captação de recursos com projeto aprovado na Lei Goyazes [Lei de Incentivo à Cultura do Estado de Goiás]. Quem topou investir R$ 70 mil na produção do curta-metragem de dez minutos foi a empresa Compleite, que recebe isenção de parte do ICMS [Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Prestação de Serviços] ao patrocinar projetos culturais aprovados pelo mecanismo estadual. E o resultado fez com que o resultado girasse o mundo.
“O Malabarista”, que traz depoimentos de artistas de rua que vivenciam a arte circense dos malabares nos semáforos, retrata nas imagens uma história de um dia de trabalho de um artista de rua, da hora em que ele acorda até o fim de seu expediente. O filme foi selecionado para cem festivais em 28 países e recebeu 26 prêmios.
Estão na lista de eventos nos quais o curta-metragem de animação esteve o 35º Chicago International Children’s Film Festival (EUA), o 26º Anima Mundi (RJ/SP), o 44º Festival de
Cine Iberoamericano de Huelva (Espanha) e o 40º Festival de La Habana – Festival Internacional del Nuevo Cine Latinoamericano (Cuba).
“Eu fazia pós-graduação em Cinema e Audiovisual na UEG [Universidade Estadual de Goiás] e tinha uma matéria sobre documentários ministrada pelo professor Rafael de Almeida. Durante as aulas, percebi o quanto o documentário poderia ser abrangente e isso também me deu um empurrão, tive mais coragem de assumir o documentário em animação durante as aulas”, relata Iuri sobre quando teve a ideia de mudar a proposta para um filme todo feito a partir de desenhos.
Para cuidar das ilustrações, storyboard, direção de animação e arte, Iuri chamou o goiano Wesley Rodrigues. “O Malabarista” é o terceiro filme da carreira do diretor, que começou no cinema em 2011 com o documentário “Eu Kalunga” como parte do trabalho de conclusão do curso de Fotografia e Imagem na Faculdade Cambury. Depois veio “Lápis Sem Cor” no ano de 2016.
Quando teve como certa a ideia de fazer o documentário em animação, Iuri viu que precisava de algo diferente. “Eu já tinha visto outros documentários em animação em que a imagem simula uma pessoa falando, com um desenho da pessoa sentada na cadeira falando para a ‘câmera’.” O diretor explica que “queria trazer uma proposta nova, com os depoimentos sempre em off e narrativa visual” ao mesmo tempo.
Veja o trailer do filme “O Malabarista”:
Sócio da produtora Caolha Filmes, Iuri contou com produção executiva de Lara Morena no filme, assistência de direção de Fernão Carvalho, direção de produção de Danilo e Marcelo Kamenach. O som ficou a cargo de Thiago Camargo e Guilherme Nogueira. A trilha sonora é assinada por Dênio de Paula, da Tambor Cortante, que assume os violões e efeitos, com Henry na percussão e Fred Praxedes na sanfona.
Mas a canção escolhida para o final do curta-metragem, “Paixão de Malabarista”, foi composta por Saracura do Brejo, um dos malabaristas entrevistados para a realização do documentário. A interpretação da música tem a voz de Flávia Carolina, com direção musical, mixagem e masterização de Dênio de Paula e Daniel de Paula. A finalização do filme é de Isabela Veiga, pesquisa por Iohannah Hardy e o próprio diretor, além do design gráfico de Gabriel Godinho.
O filme
A história só existe porque os malabaristas contaram sua rotina. Mas o trabalho de tirar o ganha-pão no semáforo todo dia feito por Luciano Yacante, Ana Marcela, Ícaro Araújo, Gustavo Torres, Chico Curi e Samira Lemes surge como narração de detalhes do que vivem os artistas de rua no contato com pessoas nem sempre muito dispostas a receberem com bons olhos seus trabalhos com a seriedade que gostariam de ser encarados.
Mesmo assim, o malabarista acorda pela manhã e vê cor no café tomado enquanto olha pela janela o pássaro que sobrevoa a cidade. Desde o exercício matinal ao ponto de ônibus, a busca é por levar alegria a quem o nota, com truques ou brincadeiras. O sorriso de uma criança, que também tem cor em uma cidade pálida pela tonalidade única da rotina cansativa, mostra que o encanto da infância permanece nos malabares do artista de rua no seu dia a dia.
Quem por ele passa ganha mais cor. E até mais vida. O desafio de esperar o semáforo assumir a luz vermelha e se mostrar palco provisório e com curto tempo para a exibição do malabarista vem como um desafio ainda maior. Se exibir em sua técnica de equilíbrio com bolas ou outros objetos em equilíbrio ou controle no ar parece uma busca cruel pela atenção e respaldo de um público que acelera apressado, louco para ver a luz verde no semáforo e seguir seu destino em desafio ao ponteiro do relógio.
Até o ato de passar o chapéu em busca de uma contribuição ou um pagamento voluntário pela exibição artística naquele momento se torna um ato de resistência. É hora de manter o sorriso, não borrar a maquiagem e retribuir com bom humor quando a atitude do motorista é lhe fechar o vidro na cara ou simplesmente ignorá-lo enquanto verifica a notificação que não existe no Instagram ou no Facebook de forma ilegal com o carro parado – ou até na moto, para os menos preocupados com a morte.
Por mais que a história tivesse tudo para deixar uma reflexão triste sobre a dureza da cidade com quem lida com cultura e arte de forma profissional, mas não é reconhecido por sua formação, seja nos malabares, no picadeiro ou na direção de um curta-metragem em animação, o roteiro traz a beleza de uma rotina dura que vai aos poucos sendo tomada pela cor e a esperança.
“O malabarista, colorido, representa a arte, a alegria, o entretenimento, que muitas vezes deixamos de lado na correria do nosso dia a dia. Já a cidade, monocromática, é a representação dessas rotinas monótonas que levamos, com muito trânsito e sempre com pouco tempo. A ideia foi trazer o malabarista pincelando e colorindo essa cidade, as cores ficam em detalhes sutis, como nas bochechas de passageiros após a sua apresentação no ônibus”, explica o diretor.
Incentivo
O filme “O Malabarista”, que já tem contratos fechados de exibição com as emissoras de televisão Canal Brasil e TV Brasil, além de seu projeto ter sido aprovado Lei Goyazes de 2016. No final de 2018, o ex-governador José Eliton (PSDB) assinou um decreto que determinava o fim o mecanismo de incentivo à cultura, que foi revertido este ano na Assembleia Legislativa. Só que o cronograma de captação de muitos projetos está atrasado. “Se não voltar a liberar os recursos, a produção da cultura vai continuar parada.”
Iuri é um dos organizadores do Lanterna Mágica, festival de cinema voltado para os filmes de animação, que tem entrada gratuita e chega em 2019 à sua terceira edição. “Está tudo uma loucura. Os projetos do FAC [Fundo de Arte e Cultura do Estado de Goiás] de 2017 não foram pagos. Aprovamos três projetos em 2017: Lanterna Mágica, meu novo curta de animação que vou dirigir e um projeto de pesquisa.” De acordo com Iuri, até agora nada foi liberado do Fundo, o que tem prejudicado o desenvolvimento desses trabalhos.
O diretor explica que a alternativa, por enquanto, é buscar patrocínios privados para realizar a terceira edição do Lanterna Mágica e os outros projetos. Como o Fundo de 2018 ainda está em fase de análise dos novos projetos apresentados, que está atrasada, os produtores culturais goianos que dependem do incentivo estadual “estão na luta”. “No âmbito federal, a Ancine [Agência Nacional do Cinema] também travou.”
A Caolha Filmes acabou de aprovar um projeto de produção de uma animação longa-metragem chamada “O Minimundo de Clarice”, que entraria na fase de contratação. Mas o processo de incentivo da Ancine está em discussão no Tribunal de Contas da União (TCU). Isso somado aos cronogramas de captação de recursos mensais da Lei Goyazes e os pagamentos do Fundo de Arte e Cultura, que estão atrasados, o que tem atrapalhado o setor cultural goiano.
Mas parece que, mesmo com as dificuldades, a arte em Goiás segue como o malabarista, que tenta levar cor na maquiagem, simpatia no sorriso, técnica e beleza nas manobras que executa enquanto o semáforo está fechado e há disposição para continuar a receber não enquanto passa o chapéu.
Fonte: